Sarah Paulson como Ally (Foto: Divulgação/FX) |
O ponto de partida de Cult é o momento onde Donald Trump é anunciado como novo presidente dos Estados Unidos. A cena em questão possui duas perspectivas: a primeira é a de Ally (Sarah Paulson). Mulher, lésbica e feminista, ela se choca e chora com o resultado; Kai (Evan Peters) é o completo oposto dela. Machista, racista, homofobico e misógino, ele vibra com a vitória de Trump. Assistindo o episódio, achei as atuações exageradas. "Onde já se viu se envolver tanto com política ao ponto de chorar com um resultado?", me perguntei.
Pouco mais de um ano após a exibição da sétima temporada de AHS, aconteceu as eleições para definir o 38º presidente do Brasil. À espera do resultado do segundo turno, me vi aflito, ansioso, angustiado. Quando vi a vitória do candidato Jair Bolsonaro eu só queria chorar e gritar. E foi aí que me veio na cabeça a cena de Ally desesperada por Trump ter vencido. Ainda que se trate de uma obra de ficção, interpretada por atores, eu finalmente percebi que aquilo não era exagero. Era horror. Puro e genuíno.
Ver um homem que proferiu discursos de ódio e racismo, carregados de preconceito e misoginia sendo eleito para o cargo de maior poder e autoridade do país me assusta mais do que qualquer outra coisa.
A vitória de Jair Bolsonaro encerra um dos períodos eleitorais mais conturbados e medonhos na história da política brasileira e deixa um clima estranho pairando pelo ar. Um ar de medo. As mulheres, os índios, os negros, a comunidade LGBTQ+ e as pessoas que acreditam na democracia estão assustadas. Temerosas pelo futuro.
Em Cult, após Trump ser eleito, o personagem de Evan Peters tomou coragem para propagar o horror por sua cidade. Reunido de seguidores e vestindo máscaras de palhaços, tomaram coragem para ferir (e até mesmo assassinar) imigrantes latinos e pessoas com pensamentos esquerdistas ou que discordavam de seus ideais.
Pouco depois de Bolsonaro ser anunciado como novo presidente do Brasil, já houve uma onda de atos violentos causada por seus eleitores. As máscaras de palhaços somem e dão lugar a rostos limpos e descobertos, mas carregados de ódio. Os "bolsominions" (apelido dado aos seguidores de Jair Bolsonaro) estão com mais coragem do que nunca. E eu estou com medo. Dia primeiro de Janeiro se aproxima e com ele, o meu horror cresce.
*Texto feito originalmente para a matéria Comunicação, Cultura e Sociedade, do primeiro semestre do curso de Jornalismo